Um conflito envolvendo José Júnior,
coordenador do grupo AfroReggae e o pastor Marcos Pereira, líder da
Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias não parece dar sinal de
trégua. Após muita especulação e poucas provas pastor Marcos está preso,
desde o dia 8 de maio, aguardando julgamento e José Júnior, pelo que
parece, protegido pela polícia. Os “buracos” e a falta de cuidado na
investigação fizeram com que 15 parlamentares se reunissem com o
secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame. O
assunto é justamente discutir a investigação da Polícia Civil, que levou
a prisão do pastor.
Segundo matéria publicada no jornal ‘O
Dia’, a apuração policial colocou em lados opostos dois ex-amigos com
vocação de resgatar traficantes do mundo do crime. De um lado, Marcos
Pereira, acusado de estuprar ex-missionárias da sua igreja. De outro, o
coordenador do grupo AfroReggae, José Júnior, que após denunciar o
pastor por tramar a sua morte em parceria com o crime organizado,
transformou assessores de seu grupo cultural em investigadores a serviço
da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod).
Um desses homens é o pastor Rogério
Ribeiro Menezes, ex-homem de confiança de Marcos Pereira. Rogério trocou
a igreja pelo AfroReggae. Foi ele quem convenceu e levou — algumas
vezes em seu próprio carro — todas as testemunhas à delegacia.
Ainda segunda a matéria, chama a atenção o
fato de uma das testemunhas contra o pastor ter começado a trabalhar em
seguida no AfroReggae, após ter sido levada pelo pastor Rogério à Dcod
para acusar o pastor Marcos de encenar milagres e resgates de bandidos. E
com um adendo: o depoimento aconteceu depois da meia-noite. Horário
pouco convencional para uma delegacia especializada, com expediente
reduzido e num inquérito que se arrastou por mais de um ano, mas que se
repetiu. Ao todo, cinco pessoas foram ouvidas na polícia entre 22h e 1h.
Erros no ‘processo’
Parcialidade: Todas as
testemunhas ouvidas no inquérito foram levadas por funcionários do
AfroReggae. Algumas receberam a promessa de casa e emprego no próprio
grupo cultural, onde cinco cumprem jornada regular de trabalho.
Sem apoio legal: Segundo
os advogados, escutas divulgadas pela delegacia não foram autorizadas
nos processos abertos por associação ao tráfico, estupro e coação de
testemunhas. A acusação fala sobre interceptações, mas não há garantia
de que as provas tenham sido obtidas legalmente.
Calada da noite: Cinco
das principais testemunhas foram ouvidas tarde da noite e até de
madrugada na Dcod. Em dois casos, depois da meia-noite. O expediente lá
termina às 18h, como informam os plantonistas. Em um caso, o policial
teve que ser chamado às pressas em casa.
Descuido: Apesar de
relatos de lavagem de dinheiro por parentes do traficante Márcio
Nepomuceno e supostamente pelo pastor, não foram pedidas as quebras de
sigilo financeiro e bancário. Testemunhas relatam contas em bancos e
depósitos regulares (até R$ 50 mil). Só agora casos foram desmembrados.
Preguiça: Testemunhas
contaram que três pessoas foram mortas a mando do pastor e os corpos
enterrados numa fazenda em Tinguá, Nova Iguaçu. Um ano depois, o local
não foi vistoriado, e acusados tiveram tempo para eliminar evidências.
Uma testemunha é, inclusive, ré confessa.
Olhos fechados: Um mesmo
depoimento, que ganhou crédito por denunciar as farsas do pastor, foi
ignorado pelos investigadores ao falar sobre ‘doações’ de dinheiro e
bens públicos.
Estacionado: Após um
ano, a polícia ainda não descobriu o médico que seria responsável por
fazer os abortos em vítimas de estupro que supostamente engravidaram do
pastor. E isto apesar dos detalhes que as mulheres deram nos depoimentos
e da facilidade de localizar o consultório.
Acusação e investigação mais criteriosa
Ao falar sobre o pastor Marcos Pereira,
Júnior sempre ataca. Ele chegou a fazer uma grave denúncia: “Tenho uma
gravação com o cara contratado para me matar. Combinei que só vou
mostrar o conteúdo quando ele (o matador) morrer”.
O pastor, por sua vez, alega inocência,
afirma que segue evangelizando na cadeia, e já retirou os processos que
tinha contra José Júnior.
Enquanto isso, 15 parlamentares se
reuniram com o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. O
assunto é justamente discutir a investigação da Polícia Civil que levou à
prisão de Marcos Pereira. A conversa foi encabeçada pelo presidente da
Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado federal e pastor
Marco Feliciano (PSC-SP). Nenhuma notícia oficial foi divulgada ainda
sobre os resultados da reunião.
Alguns dos deputados são evangélicos e
pedem explicação sobre a manipulação das testemunhas e o uso de provas
ilícitas por parte de pessoas que trabalham no AfroReggae. Há uma
gravação deles oferecendo casa e trabalho para convencer um homem a
depor contra o pastor.
Juíza critica investigação
A matéria do ‘O Dia’ também revela uma
curiosidade do inquérito, que foram sublinhadas pela juíza Cláudia
Pomarico Ribeiro, da 43ª Vara Criminal, ao negar o pedido de
interceptação telefônica feito pelo delegado Márcio Mendonça. Após
criticar a investigação, ela destacou que entre as pessoas a serem
ouvidas, uma morreu em 2008.
A decisão da juíza alertou os advogados
do pastor. Como o delegado ouviu, supostamente, um comentário do pastor
sobre uma missionária se a autorização de escuta foi cancelada?
O delegado, que em outra ocasião aceitou
vídeo editado e colocou na cadeia o líder comunitário da Rocinha Willian
de Oliveira, não quis comentar. Alegou sigilo profissional.
Inquérito se transforma em 4 processos
Aberto para investigar a ligação do
pastor Marcos com o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro, o
inquérito na Dcod acabou se transformando em quatro processos — dois por
estupro e dois por coação de testemunhas, sendo um deles já arquivado
e, em outro, a vítima recuou na acusação e acusou os policiais de
prepararem seu depoimento.
“Falei 10 minutos e preencheram quatro
páginas. Assinei porque fiquei com medo”, acusa Elisângela Cardoso de
Jesus, que gravou um recado no celular deixado por funcionária no
AfroReggae, o qual classifica como ameaça: “Te cuida que o Diabo está
furioso”.
Fonte: O Dia